segunda-feira, 4 de novembro de 2013

QUANDO A CHUVA PASSAR

O tempo está de chuva. Antes que anoiteça vou comprar um vinho bom; melhor, por precaução, dois, e telefonar para você passar a noite comigo. Ando me roendo, faz tempo, de uma saudade que não tem cura. Vou preparar o ambiente bem ao teu gosto e deixar na ponta da agulha as tuas músicas prediletas.

Vou trocar os lençóis e as fronhas dos travesseiros e colocar toalhas novas no banheiro. Ah, não posso esquecer de comprar flores para te receber e um ramo de orquídea para enfeitar a mesa de jantar. E que seja lilás, tua cor preferida.

E vou escrever um poema com dedicatória para você ter na carteira, junto com aquele outro bem antigo, que sei que ainda guardas, e que o visitas de vez em quando, nos dias que precisas recordar da parte boa da minha alma.

Antes que anoiteça, vou também atrás dos ingredientes para preparar aquela comidinha que tanto gostas. E vou colocar, distraidamente, sobre a mesinha de centro as nossas fotografias. Haverão elas de nos lembrar, com mais força, do quanto já fomos felizes. E vou apagar as luzes e ascender duas velas; e assim, na penumbra jantaremos. Hei de conseguir ser romântico desta vez.

Eu que fui ficando descuidado com nós dois, e deixei que a rotina tomasse conta. Eu que parei de te surpreender. Eu que não reguei o nosso jardim. Eu que permiti que o cansaço nos atingisse. Eu que um dia me acomodei e nunca mais fiz versos para você. Eu que te traí. Eu que matei o nosso amor. Eu que machuquei para sempre o teu rico coração. Eu que nunca soube amar para sempre. Eu, que agora preciso tanto te rever, nem que seja apenas para te pedir perdão.

Não sei se acreditarás em mim, já que muito te enganei, mas necessito tanto que você me ouça. E quando estivermos jantando e bebendo vinho, olharei dentro dos teus lindos olhos verdes e te pedirei, se necessário, implorarei, que fiques esta noite comigo. Porque hoje fiquei pequeno demais e este céu pesado está quase me sufocando.

É muito importante que venhas, minha querida. Nem que sirva, tão somente esta tua visita, para eu olhar o teu rosto, a tua pele, o teu corpo; escutar a tua voz, respirar o teu cheiro, assistir o teu sorriso, e poder segurar as tuas mãos, acariciar os teus dedos bonitos. E se possível for, encostar meus lábios nos teus, e ainda, seria o paraíso, se eu pudesse te abraçar bem forte para sentir todo o teu corpo no meu. E poderia morrer depois, se fizesse amor contigo.

Anoiteceu rápido demais e a chuva bate forte lá fora. Já passou a hora do jantar e nada de você chegar. Enfim, toca o telefone e você me diz que pensou muito, e que é melhor que não; que a gente não se reveja. Que devemos continuar assim, separados; por longe um do outro.

Abro uma garrafa de vinho. Olho as flores entristecidas, porque são tristes as flores quando estão distantes de uma mulher, e bebo meia garrafa com a sede dos desiludidos. Guardo a comida na geladeira, sento no sofá pronto para pagar mais esta promissória, das tantas que já paguei, escutando a música, aquela, que desde o começo, você elegeu como nossa. Agora, tudo é só castigo.

Amanhã, esta chuva vai passar!

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