terça-feira, 12 de novembro de 2013

A PRAÇA DOS AMORES COMPRADOS

Enquanto ele passava, uma velha gorda lhe disse: “ - vamos amor, minha experiência vai te custar muito pouco.” Mais adiante uma mulata com cara de sono, falou: “ - Só pela passagem do ônibus.” Outras com as pernas varizentas, propuseram: “ - nós duas, por um dinheiro qualquer.” Alguém que devia ser um travesti se ofereceu em troca de uma miséria para comprar droga. Uma loira de cabelo amassado falou alto: “ - vamos meu bem, por um prato de comida sou toda tua.” Outra que estava grávida, desdentada, implorou: “ - serviço completo, por uns trocados. Preciso levar pão para os três filhos pequenos. 

Ele sem responder as ofertas, meio desiludido, já havia quase atravessado a praça, quando uma delas, que não conhecia, com não mais que 17 anos, sorriu e lhe pediu um cigarro, com um sotaque do interior. Tinha os cabelos dourados, todos os dentes, unhas no capricho e um sorriso fácil que lhe vinha. Aparência de folhagem criada na estufa. 

Contou que estava perdida na cidade. Que não tinha onde dormir, nem outra roupa para vestir e nada para comer. 

Olhou para aquela moça que podia ser sua filha, falou qualquer coisa e foram para uma lanchonete ali por perto. 

Como come feio, uma pessoa quando está faminta. Devorou apressada três pastéis com duas xícaras de café-com-leite, e pediu mais. 

Disse que se chamava Florinda. Bem que era uma flor, e se descansasse seria linda também. Afirmou que fora expulsa de casa por conta de uma gravidez e um aborto feito às pressas. “ - Cidade pequena, pai antigo e conservador, sabes?” E que o 'causador' da gravidez, assustado com as ameaças, sumiu sem deixar rastro. 

Levou a Florinda para o seu apartamento. Um achado! Ela tomou banho, vestiu uma bermuda e uma camisa de homem e uns chinelos enormes de borracha. Lavou no tanque o vestido de seda e a minúscula calcinha vermelha, e limpou as tiras das sandálias prateadas. Deitou no sofá e dormiu com a televisão ligada na novela, depois do jornal. Ele olhava aquele corpo magro, comprido, bonito de se ver, e teve vontade de beijá-la. 

Bem que podia acontecer, pensou. Afinal, cinquentão, solitário há muito tempo, aposentado. Bem que podia acontecer e a Florinda ser a sua salvação. Bem que podia! Um socorreria o outro, como é do jeito que sempre acontece na vida. Sempre um está salvando o outro. Um escora, o outro segura. Parece que estamos sempre correndo perigo. Quase ninguém sabe viver sozinho. 

No outro dia foram no shopping comprar roupas. Como ficou jeitosa a Florinda arrumada; mais tranquila, cresceu a estampa da guria. Depois almoçaram no restaurante. Ela demostrou intimidade com os talhares e dizia coisa com coisa. 

“ - Queres morar comigo e ser minha mulher, Florinda?” Ela quase se engasgou com o cafezinho e olhou para ele como se precisasse muito daquela pergunta. 

Viveram juntos por aproximadamente três semanas. Estava indo bem a parceria, até que apareceu o Tobias, o rapaz que lhe havia engravidado. 

Mais uns dias, lá se foi ele de volta passear na praça. Ali, sempre aparece uma surpresa boa. Bem verdade, que tudo passageiro, nada definitivo. Porque, todo mundo sempre tem um pedaço de si, preso num gancho do passado.

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