sábado, 15 de março de 2014

OS ALCES DO PIAUÍ

São de todas as idades, e andam em bandos os homens traídos. Que ser corno está na índole, na genética desse tipo de pessoa. É uma espécie de vocação. São tantos – uma multidão, que deveriam criar uma associação, ou um sindicato, ou um partido político, ou uma seita; no mínimo, uma confraria. Porém, não é tarefa das mais fáceis identificá-los exibindo suas fartas galhadas, quando estão desacompanhados, nas ruas, nos bares, nas igrejas, nos gabinetes. Solitários se camuflam muito bem. Mas quando estão acompanhados de suas respectivas traidoras, embora em silêncio, elas nos dizem tudo.

São eles, aqueles que não possuem tempo para as suas mulheres. Que apenas as exibem como um troféu, uma justificativa social. Os cornos apenas enxergam nas suas esposas, meras afirmações de suas virilidades, e nos filhos, um atestado de suas fertilidades. No mais, elas são mais uma de suas coisas materiais. Um brinquedo de carne e osso. Um cartãozinho de visita. Uma referência. Uma carta de apresentação.

Não demoram elas a perceberem essas desconsiderações. Logo, compreendem a armadilha. E partem discretas e silenciosas para a reação. Que mulher nem sempre protesta! Sorrateiras, adoecidas pela carência, buscam, não necessariamente uma vingança, mas a satisfação de suas necessidades carnais e afetivas. Precisam ser queridas, desejadas e amadas para se completarem como fêmeas, porque é pecado ser infeliz; aceitar como destino, que a vida se torne um episódio medíocre. E como quem procura sempre encontra o que deseja, então, outro corno a mais na praça.

E quando estão com os seus amigos, os traídos mentem; criam a ilusão de uma felicidade que não conhecem. Falam em amantes que não possuem, inventam aventuras amorosas que não aconteceram, gabam-se de performances sexuais que não são capazes. Enfim, vangloriam-se de conquistas e desempenhos fabulosos que jamais experimentaram.

Depois, essas mulheres que foram obrigadas a viver casos fora deste tipo de relação conjugal, reaparecem radiantes, sorrindo por tão secreta alegria. Melhoram suas peles que voltam a cintilar; os cabelos, antes secos e quebradiços, retornam com viço e sedosos; retorna em suas fisionomias a vivacidade que havia sumido. É como se uma lâmpada se acendesse em suas almas, atirando luz, brilho e vida através dos seus olhos, que antes estavam desfalecidos.

Quem já viu essa transformação acontecer com uma ou mais mulheres, presenciou o milagre do renascimento. Enquanto isso, os cornos continuam gabolas, falastrões e mentirosos, tentando enganar não apenas seus conhecidos, mas, principalmente a si próprios: tecendo lentamente, dia após dia, os fios das fibras que engrossam os chifres que enfeitam suas cabeças.

Dizem eles, que basta alguém subir na vida para ser alvo dessas acusações difamatórias nascidas da inveja. Assim, negam suas condições. Querem os cornos nos impressionar que eles nem existem. Que é tudo invenção, tal como os alces do Piauí.

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