quinta-feira, 10 de outubro de 2013

A BATINA DO PEDÓFILO

Esta história me foi narrada por um morador do lugar onde o fato aconteceu, e pai de uma das crianças atacadas, logo após a sua absolvição em demorado processo criminal. Vou me ater apenas no que escutei, portanto, sem invencionice. Então, lá vai: 

Fala a verdade, desgraçado! Diga por esta boca nojenta porque você estuprou minha filha! Fala, padre canalha! É tão menina, ela ainda. Só 11 anos, a coitadinha; um anjo inocente. Vai, te confessa agora monstro, filho do satanás! Você acabou com a nossa vida; desonrou a minha família, seu miserável! 

Com as mãos de homem forte agarradas no pescoço do padre, o Joaquim, buscando forças no ódio, na revolta, no desespero, estrangulou o homem da igreja. Depois da besta caída, levantou a batina e cortou fora a genitália e atirou-a no fogo que ardia na lareira da casa paroquial, naquela tarde fria de inverno. A seguir, após enterrar até o cabo, a lâmina da faca no peito do padre desfalecido, disse: “ - esta tua morte é por conta de todos os meninos e meninas que você estuprou aqui na nossa cidadezinha, seu crápula; demônio fantasiado de santo!” 

Antes, porém, assim como todo covarde, o padre pediu clemência para o Joaquim, e para Deus, misericórdia,. - Ora Deus numa hora dessas! Ora pedir perdão por crime dessa espécie. Onde já se viu perdoar esse tipo de crime. Nunca se dá ouvidos para este tipo de bandido! A justiça é aqui e agora, feita pelas minhas mãos! - Gritava o Joaquim, transtornado. 

“ - Vieste há anos para o nosso lugar. Colocamos em ti toda a nossa confiança. Entregamos para ti, com pureza na alma, todos os nossos filhos, para aprenderem os ensinamentos de Deus. E vem você, padre imundo, e abusa das nossas crianças; as mais bonitinhas e indefesas. Traíste a nossa mais pura confiança. Tínhamos a infinita certeza que elas estariam protegidas nas tuas aulas de catecismo, homem infame! Escutamos com respeito os teus sermões, recebemos em nossas bocas as hóstias envenenadas por estas tuas mãos sujas.” 

“ - Agora, por toda a cidade, as famílias choram seus filhos deflorados. Foste dono da nossa boa-fé. Você nos destruiu padre pedófilo. Escondeste atrás da fachada de homem religioso, por trás das imagens dos santos que ornam as paredes deste templo, por trás de gestos estudados e desta voz treinada para ser macia, as tuas taras mais sórdidas, os piores defeitos de caráter que um homem pode desenvolver. Por que não suspeitei de ti? Por quê? Dizia o Joaquim desesperado junto ao corpo do padre; um senhor com mais de 60 anos, o sacerdote. 

Colocou o corpo sobre os ombros e atirou-o no gramado da praça em frente a igreja e mandou chamar o povo para presenciar aquela inevitável vingança. 

Veio a população; as mães e pais dos meninos e meninas seviciados. Confusos, choravam e riam ao mesmo tempo. 

As crianças ficaram em casa, adoecidas. Não saíram mais dos seus quartos. Algumas delas destruíram os seus brinquedos. A infância foi arrebentada. Nada mais teve graça e encantamento. A inocência fora ultrajada. Sentiam-se sujas, culpadas, pecadoras, aquelas pequenas almas que tinham tudo para crescerem felizes. 

Depois, as famílias vítimas do padre foram de mudança para cidades distantes. Buscavam a esperança que um novo lugar cicatrizasse tão profundas feridas. Também não suportaram conviver com o trauma e a vergonha diante da pequena comunidade. Ser apontado na rua, é ser ferido de morte todos os dias. 

Nunca mais ninguém foi o mesmo. E as crianças cresceram traumatizadas. Os especialistas dizem que a dor vai durar para sempre. Que algumas não terão forças para viver. 

Bem que podia ser apenas obra de ficção, esta história. Infelizmente, aconteceu e ainda acontece próximo de altares, crucifixos, livros sagrados; sob os olhares de imagens adoradas; e tão distantes do que o Filho do Pai ensinou, que me deu repulsa em escrevê-la. Mas, nossas vozes devem gritar a nossa indignação. Que eles devem parar e desaparecerem da face da terra junto com suas batinas pecadoras. 

Durante o tempo em que escrevia, uma amiga jornalista e escritora me acompanhava na mesa do café. Pediu que eu não publicasse este texto. Enquanto ela relia, refleti sobre a divulgação. Por fim decidi. Discordei: - “ escrito está. Agora leia quem quiser. Enquanto existir um pedófilo vivo ou em liberdade, alguém tem que denunciar, registrar a raiva no meio onde atua, deste crime tão hediondo. Não podemos permanecer indiferentes. Porque, minha querida, sempre foi assim. Quando não posso gritar, minha caneta grita por mim.” 

Era o que tinha para dizer.

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