quinta-feira, 27 de setembro de 2012

O PERFUME DA MULHER

Foi numa noite fria de inverno, ocupando uma mesa num cantinho do bar, usando pouca roupa, que se resumia a um conjunto de saia e blusa e uma sandália baixinha, inadequadas para a estação, tomando um copo de vinho sem raça, que vi aquela mulher. 

Estava desamparada, distante e triste. Respirava pela boca, abrindo e fechando os lábios como um delicado peixinho fora d’água, agonizando, esperando a hora da morte. 

Tirei o meu casaco e coloquei sobre os seus ombros e chamei o garçom. Veio três travessas com carne suculenta, arroz e ovos fritos fumegantes e salada, e uma garrafa de vinho bom e ela sorriu forçado e depois exclamou: “ – que merda, essa vida!” 

Não respondi, nem ela falou mais. Ficamos comendo e bebendo aquela garrafa de vinho, e outra, mais uma e mais outra, até que ela me olhou e sorriu novamente. E sorriu bonito desta vez. E como era bonita aquela jovem mulher com os dentes brancos e os lábios bem desenhados. Como foi gostoso quando ela deitou a cabeça no meu ombro. Pareceu um bichinho abandonado buscando uma lasquinha de aconchego. 

Com os olhos verdes da cor das esmeraldas que nunca usou me olhava como se quisesse dizer alguma coisa, ou perguntar. Não disse e não perguntou. Eu quieto, só olhando pra ela pensando na sorte que tive, e tomando vinho e fazendo carinho nas suas mãos e nos seus dedinhos pálidos, delicados e compridos. 

Troquei de lugar e sentei ao lado dela, abracei o seu corpo com os dois braços e passei levemente o meu rosto na sua face e pude ver por cima do degote da blusa aqueles seios firmes, tamanho médio, perfeitos; com os mamilos rosados e empinados com os bicos endurecidos, vibrantes de tão vivos, se arfando necessitados querendo furar o tecido da roupa pra encontrar uma toca quentinha pra se abrigar. 

Tomei mais vinho e ela também e nos beijamos como se estivéssemos apaixonados e senti um especial e delicioso aroma que somente algumas raras e felizardas fêmeas liberam. 

Então passei a mão entre as suas coxas e senti aquela pele fina e aveludada, um pouquinho eriçada pelos arrepios que o frio e a excitação lhe provocava. E com a audácia necessária, enquanto nos beijávamos violentamente sob aquela quase meia-luz levei a mão até a sua mais guardada intimidade, invadindo a calcinha que a protegia. E lá chegando no paraíso encontrei um pequeno conjunto de penugens suaves; pelos curtos e macios, tais os fios do mais precioso algodão, umedecidos e perfumados com as essências sedutoras que nunca uma outra flor conseguiu exalar. 

E veio de lá, impregnado nos meus dedos a fragrância da sua mais secreta umidade. Néctar que ela me oferecia. A seguir coloquei minha cadeira de frente com a dela e passei as minhas pernas por fora das suas e juntamos os nossos corpos e nos beijamos como dois enlouquecidos. E foi tão forte e tão bom aquele beijo que os nossos corpos estremeceram, e sem pensar nos levantamos e continuamos a nos beijar, com as nossas carnes latejando, e o sangue feito um rio feroz correndo selvagem nas nossas veias. Nossas bocas corriam pelos lábios, pescoço, nuca, ouvido e ombros numa afobação que parecia que não se tinha tempo pra ser tranqüilo. E nossas mãos seguravam, esfregavam e apertavam as nossas intimidades, prontas para explodirem. Cada mão tocava nas partes que precisava. 

Fiquei com o rosto perfumado com o extrato tentador vertido da pele da sua face. Nunca tinha acontecido de conhecer uma mulher com um cheiro natural tão agradável, e uma boca tão doce e uma pele tecida por tão delicados fios como se fossem recém retirados do mais nobre casulo de seda. 

E mais imaginei. Muito mais. 

Paguei a despesa e saímos rua fria afora rumo ao meu apartamento. 

Ficamos trinta dias encerrados. Noite e dia. Dia e noite, gastando tudo que um tinha para oferecer para o outro, eu e a Janete. 

Naquela noite fria de inverno conheci a mulher com a pele mais suave e agradável ao tato, que exalava um perfume mais provocante por todas as partes do seu corpo, principalmente através daquelas mais desejadas. Essências e licores vindos de fontes especiais que à poucos afortunados é dado o direito de usufruir. 

No dia que fechou um mês de tantas e inesquecíveis horas a fio de prazer acordamos diferentes. Nos olhamos sem desejo, sem vontade, neutros. Nos esgotamos. Entendemos tudo sem falar nada. Me arrumei, ela também. Colocou a roupa do primeiro dia, e sem combinação nem ensaio dissemos os dois ao mesmo tempo: vamos embora! 

E não precisou levar o meu casaco. O inverno já havia terminado. Ela se foi. Mas mesmo assim, os cheiros e o gosto daquela mulher deixaram vestígios permanentes, que até hoje, muitos anos depois, ainda me invadem as narinas e se misturam na boca, adocicando a minha saliva.

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