sexta-feira, 5 de outubro de 2012

A MULHER INFLÁVEL

Fazia muito tempo que o Joca não via o Alfredão. Mais de uma década. Nem sabia que ele havia se separado da Joana, sua esposa de toda uma vida e mãe dos seus filhos que agora moravam no exterior.

Pois o Joca encontrou o danado saindo de uma loja de artigos eróticos agarrado numa caixa de papelão, embrulhada com esmero em um papel brilhante, especial.

Se abraçaram e falaram sobre a vida. Dos bons tempos que já se tinham ido, devorados pela inclemência faminta do tempo.

– ­Esta aqui é a loira. – ­­Falou de repente, sorrindo. Apontando para a caixa.

– Como assim? Uma loira aí dentro? Perguntou o Joca, surpreso.

– Sim. Já tenho em casa mais duas: uma ruiva que se chama Aurora e uma morena que é a Margarida. E esta, a loira, vai se chamar, Clara. A Clara Rosa.

– Do que tu estás falando, homem? Que loucura é essa?

– Mulheres infláveis, respondeu o Alfredão. – Agora, com essa nova aquisição me tornei um Sultão, dono de um harém. E começou a desfiar os seus argumentos nada ortodoxos.

Sabes, Joca, depois que me separei da Joana, por praticidade, não saio mais com mulheres de carne e osso. Resolvi montar um time, só dessas, e estou encantado.

– Joca, – continuou o Afredão, – essas mulheres infláveis são um espetáculo. É a invenção do século. São bonitas, esbeltas, sexies, perfumadas. Não são atacadas pela maldita TPM, jamais alegam dores de cabaça, estão sempre disponíveis, não brigam, não são agressivas, não ficam de mau humor, não engravidam e não dão despesa. É só o investimento inicial, e pronto. Depois, é só lavar e estão novas e silenciosas, quietas no canto delas. E tem mais: a tecnologia chinesa esta tão avançada que elas fazem movimentos surpreendentes com o corpo; com a boca e as partes íntimas.

– Nossa! Falou o Joca desconsertado. – Teu caso é gravíssimo; muito grave, Alfredão.

– Que nada. Essas mulheres são carregadas com umas baterias que permitem que elas façam contrações maravilhosas. O beijo então, é quente e úmido. São até melhores que as mulheres legítimas. Melhores que a Joana, isso eu garanto. Falou convicto o Alfredão.

– Que exagero!

– Tudo é vantajoso, continuou convincente. – Para cada uma, acompanha um kit com óleos especiais, fragrância aromática, o que as torna pra lá de verdadeiras.

– Para, Alfredão. Pode parar. Gritou forte o Joca. – Tu estás me dizendo que tens relacionamento um envolvimento com elas? Que gostas desta estranha situação?

– Gosto não. Estou apaixonado! Nunca fui tão feliz em toda minha vida!

– Como assim? Quis saber, o Joca.

– Queres ver? – Agora chego em casa e elas já estão quentinhas me esperando. Nuas, lindas, sensuais, sorrindo embaixo da penumbra do meu quarto. Depois, inflo esta loira da caixa e a coloco entre as outras duas. É uma loucura meu velho. Quando acordo no outro dia, nem acredito nas estripulias que fizemos juntos.

– Vou te internar, Alfredão. Que palhaçada. Não dá pra acreditar numa história dessas. Isso é misoginia. – jogou duro o Joca.

– Miso, o quê? – Que nada cara. – Prosseguiu o Alfredão. – Tudo isso é uma questão de costume. Tem mulheres que compram consoladores, vibradores, aqueles brinquedinhos de borracha, que são somente um pedacinho do homem, e se satisfazem, não é? Pois eu compro a mulher inteira, com todos os seus atrativos. Não compro uma pecinha isolada, e sim todo o conjunto, para a cena ficar bem real.

– E tu sabes de uma coisa, Joca? Acho que com o tempo de convivência elas vão adquirindo uma espécie de sentimento bom. De companheirismo, de afeto. Vão tomando gosto pela coisa. E o principal, acabaram as brigas lá em casa. Sumiram as desavenças.

Louco de faceiro, o Alfredão atirou aquela caixa com a loira sobre os braços do Joca e mandou ele esperar um pouco. Entrou novamente na loja e saiu de lá com mais três caixas: uma delas com uma mulher loira, outra com uma morena e a terceira com uma ruiva, e disse: são tuas. Leva e experimenta. Pegou a sua caixa com a loira dentro que estava com o Joca e se foi rua afora gritando: depois me telefona. Depois me telefona me contando.

Ficou o Joca feito um retardado mental, olhando aquelas três caixas de papelão embrulhadas pra presente, ali nos seus pés, em cima da calçada. E antes que a vergonha aumentasse chamou um táxi, colocou os volumes no porta-malas e rumou para casa. Chegando, subiu rápido para o seu apartamento. Parecia que os vizinhos que cruzaram com ele no hall de entrada do prédio sorriam debochados. Que sabiam do conteúdo daquelas caixas.

O Joca entrou no quarto e colocou as mulheres encaixotadas no lado da cama e abriu uma delas, a da loira, e inflou, encheu com uma bombinha pertencente ao kit, até ela ficar durinha, lustrosa, bonita, exuberante, cheirando a juventude. Depois colocou a mulher inflada na cama, cobriu-a com um lençol novo de seda e foi para a rua tomar um vinho. No bar de sempre tomou cinco garrafas e retornou quase de madrugada, bêbado, sem saber direito onde estava. Tirou a roupa e deitou-se. Quando deu por si, tinha no seu lado aquela linda mulher loira, nua; de pele macia, sedosa, perfumada, convidativa.

De tarde, quando acordou feliz da vida, realizado, o Joca deu um beijo carinhoso no rosto da mulher, agradecendo pela noitada.

Ligou para o Alfredão, e esse aos berros no outro lado: – eu não te disse! Eu não disse! Vai ficar melhor com as três juntas. Vai ser inesquecível. Vai, Joca, tira da caixa as outras duas. Vai cara, desembrulha logo! – provocou.

O Joca sentou-se na poltrona ao lado da cama e ficou matutando: – acho que está noite vou abrir outra daquelas caixas. Agora tem uma coisa, pensou: – se eu descer e tomar cinco ou seis garrafas de vinho, volto e abro as duas de uma só vez, e aconteça o que acontecer, transo com as três, e ai vamos ver como é que fica. Depois é só dar um nome para cada uma delas, pra gente ficar bem íntimo mesmo. Mas, pra não trocar os nomes e evitar problemas com elas, vou chamá-las, todas, de bichinha.

E pra não perder tempo, se foi o Joca, bem excitado em direção bar, tomar a primeira das seis garrafas de vinho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário