terça-feira, 11 de junho de 2013

A VIAGEM: UMA MENINA CHAMADA ESPERANÇA

Na noite que o ponteiro do grande relógio que marcava o tempo no mundo caiu na terra, o tempo parou e nunca mais passou. Ficou tudo como estava. Só que para melhor. E como era noite de lua cheia, noite de lua cheia, para sempre ficou. 

A lua brilhou e fez dia prateado no céu. E dela voou uma fada com olhos cor de ametista, que disse para todos que sorriam: “ - boa noite, noite boa! Doravante, nunca mais existirá pesadelos, insônia e mendigos dormindo na rua.” E a vendedora de flores ficou de dona do jardim. E a abelha fez um mel branco de uma nuvem que baixou. 

E após esse inédito acontecimento, as pessoas não mais envelheceram, e acabaram as dores do corpo e as da alma. E o amor durou para sempre. 

O operário que batia o prego na tábua largou o martelo. O guarda aposentou o apito. O soldado botou a bazuca no lixo. O vendedor deixou a maleta no escritório. O domador abriu a porta da jaula e libertou a pantera, o macaco e o leão. O poeta caprichou ainda mais nos versos, e a jovem bailarina subiu no chafariz de águas dançantes e dançou, e dançou, para todos olharem admirados. E o mágico de casaca prateada olhou os homens carrancudos que só sabiam contar dinheiro, e retirou da cartola, mil palhaços coloridos. 

O rei atirou a coroa de ouro para o povo. O juiz guardou a toga preta na gaveta. A terra seca virou lavoura. A madeira do trono do tirano fez brasa boa, e a fome acabou. E não tinha mais criança sem aula. Até o machado do lenhador quebrou e a floresta agradeceu. O rio, de novo, se fez rio. E a prostituta se casou. 

Os deuses e os demônios falaram baixinho, porque não eram mais necessários; o pecado desaparecera, e a culpa também. Nada mais seria pecado. E as proibições foram extintas. E a morte também morreu para nunca mais voltar. E como antes na história, que nunca ninguém havia visto, nasceu um arco-íris noturno que fez uma tiara sobre a lua. E o bêbado olhando aquela beleza toda, se agarrou no poste e gritou: “ - apareceu o remédio para o mundo!” As gaitas abriram os seus foles e os violinos vibraram as suas cordas, e o cantor cantou com sua voz de passarinho, e todos dançaram. Até os solitários largaram os copos de aguardente e foram formar um par. E um pombo correio azul com cauda de pavão pousou no meu ombro com um bilhete teu, minha amada, que eu nem esperava mais. 

Então acordei, pensando que havia sonhado. Abri a janela e vi que estava enganado. Era tudo assim mesmo. Dormindo eu vi tudo aquilo acontecer. 

Saí para a rua e fui com os outros comemorar aquela espantosa transformação. Tropecei no imenso ponteiro do grande relógio que marcava o tempo no mundo, que não mais possuía aparente serventia; que mostrei para uma menina linda, de longos cabelos brancos ao meu lado, com jeito de gente, que trazia um cometa dourado pintado no rosto, e o lábios bem desenhados na forma de um beijo, mais os raros olhos cor de ametista e as mãos transparentes feitas de luz. 

Montamos no ponteiro e ele levantou voo e voamos pelas estrelas. E lá de cima, ela, repetindo o gesto da mão confiante do camponês, semeava sobre a terra, coloridas sementes de sonhos; aquelas, que se bem cuidadas, depois que germinam, sempre fazem tudo acontecer. 

A menina, dona da viagem, ficou lá no seu planeta, regido pela lua. Conversei um pouco com eles, ficamos amigos e prometeram outra visita para breve, e que de lá, zelariam pelas mudanças acontecidas. 

Assim que voltei, guardei o meu ponteiro na garagem, tirei tinta da caneta e fui escrever esta história, a pedido daquela linda menina, que se chamava Esperança.

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