terça-feira, 10 de dezembro de 2013

O CASALZINHO

Aquela não fora a primeira vez que a Maria Celeste flagrou o Fabinho experimentando os seus vestidos. Só que desta vez a coisa piorou mesmo, atingindo níveis preocupantes.

Pois chegou em casa, a Maria Celeste, antes do horário de sempre e viu com os olhos arregalados o Fabinho todo vestido de mulher, com um pretinho básico justíssimo, maquiado, unhas vermelhas, sobrancelhas aparadas, batom e cílios postiços e brincos com pingentes de ametista, colares e pulseiras, sandálias de saltinho e sutiã meia-taça com enchimento, e todo depilado fazendo boquinha e poses femininas na frente do espelho, embaixo de uma cintilante peruca loira.

– Fabinho! O que é isso, meu filho. O que tu estás fazendo desse jeito?

– Não é nada mãe. É só uma fantasia para uma festa temática.

– Festa temática? E por que não te vestes de Zorro, Super-homem, Batman, Homem-aranha, Chaves, então? – Tem que ser de mulher? Uma perua ainda por cima! E esse jeitinho todo afrescalhado, hein, seu Fabinho?

– Que nada mãe! É legal! É diferente!

– Se o teu pai te vê assim vai te matar! Aliás, vou ter uma conversa com o Haroldo, a teu respeito.

E se foi o Fabinho noite afora, quando um carro com um rapaz buzinou na frente da casa.

– Haroldo, é o seguinte: nunca te falei, mas a situação não é mais uma brincadeira. O Fabinho se veste de mulher, se pinta, se maquia, se depila. Acho que o nosso filho é gay. Acho não, tenho certeza!

– Nem diz uma coisa dessas Celeste. Não criei um filho pra ser veado. Não, não e não! Tu estás maluca, mulher. Me nego a aceitar isso como verdade.

– Mas é a pura realidade, Haroldo! – E mostrou umas fotos tiradas com o celular quando o Fabinho estava distraído.

O Haroldo caiu enfraquecido, branco como a neve por cima do sofá: – não acredito meu Deus. Vou dar uma surra no Fabinho. Vou mandar esse piá de bosta para os confins da Amazônia. Vou mandar ele para o Alasca. Melhor, vou matar esse descarado. Canalha. Onde já se viu, sair do meu sangue uma bichona. Isso é ridículo.

– Não é o fim do mundo, homem! Pensando bem, é melhor que ele seja gay do que ladrão!

– Não, mulher! Prefiro ele ladrão, assaltante de banco, batedor de carteira, do que veado. O que os meus amigos vão dizer? Vou virar motivo de gozação no escritório, no bairro, na cidade, no país, no mundo!

– Haroldo! Menos Haroldo. Tu estás assim pelo choque inicial. Logo tu te acostumas com a idéia.

– Nem pensar – disse o Haroldão já retirando o 38 do roupeiro. – O que foi que eu fiz, meu Deus? Meu único filho, um veado. Não! Não e não! Não aceito hoje e nunca essa idéia, acho que vou me matar de tanta vergonha. – E nossa família, Celeste? Já pensou, Celeste? Vai manchar a honra do nosso nome essa bicha enlouquecida.

Já madrugada, o Haroldo sem dormir, ouviu o barulho da porta se abrindo, e de cima das escadas viu o Fabinho todo vestido de mulher, bem fêmea, abraçado com um sujeito fortão, sarado de academia, todo tatuado.

– Pai! Este aqui é o Pedrão, o meu marido!

O Haroldo rolou degraus abaixo e caiu sem vida sobre o tapete da sala. Nem a respiração boca a boca que o Pedrão fez, resolveu.

Desceu a Maria Celeste, fez um chá de camomila. Tomaram os três na mesa da cozinha, e ela disse, olhando com ternura para o Fabinho: que belo casalzinho vocês fazem, meu filho!

E ela decidiu que iria para o quarto de hóspedes, e que após o enterro, o Fabinho e o seu marido Pedrão dormiriam no quarto dela, afinal, quem está casado precisa de uma cama de casal

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