sábado, 21 de setembro de 2013

OS CARTEIROS E AS CARTAS DE AMOR

Nunca mais ninguém recebeu uma carta de amor! Desaprenderam de escrevê-las. Até os carteiros ficaram tristes por não trazerem em mãos as notícias postadas pelos corações bêbados de amor. Nunca mais os carteiros viram um rosto apaixonado, com as mãos trêmulas, rasgar apressadamente um envelope e ler com emoção, logo na primeira linha: “ meu inesquecível amor! Minha eterna paixão! Amor da minha vida!”

Sabia o carteiro antigo, que na Rua da Ladeira ou na Rua da Subida ou na Rua do Meio, sempre havia uma moça enamorada esperando ansiosa a sua chegada. E a carta, quando nas mãos da moça, adquiria o valor de um tesouro, que ele precisava assistir, meio que de longe, toda aquela reação emocionada.

Se a moça chorasse o carteiro chorava junto, adivinhando o conteúdo de cada frase. Era capaz de soletrar baixinho, palavra por palavra, aquelas que a moça lia. Chorava também o carteiro, não assim tão declarado quanto a moça. Mas chorava uma lágrima teimosa que lhe descia rosto abaixo, que ele disfarçando, com o nó do dedo indicador, limpava aquela gota de felicidade, da saudade quase vencida, daquela felicidade que nem era toda sua. Apenas emprestava o sentimento, um pedaço do coração; o abraço invisível da solidariedade.

Nunca mais ninguém esperou, dias, semanas, meses até, por uma carta de amor que trouxesse uma frase de esperança, uma palavra reanimadora do sentimento envolvido, uma declaração sentida, um incentivo que valeria muito a pena esperar.

Os carteiros de hoje só trazem contas de luz, telefone, condomínio; malas diretas e correspondências comerciais. Estão agora, invisíveis os carteiros. E andam entristecidos. E sentem uma ponta de inveja dos seus colegas de décadas atrás, aqueles carteiros antigos, mensageiros que traziam cartas perfumadas, tatuadas com o beijo de batom vermelho, feito pelos tão desejados lábios da mulher amada. Mais aquelas, que as senhoritas agoniadas esperavam dos seus amados, que reforçariam necessárias juras de amor, que prometiam para breve tão aguardado noivado, seguido por um enlace que só traria felicidade.

Os carteiros de hoje nunca presenciaram uma jovem apaixonada, beijar a carta enviada por seu namorado distante, na frente do portão da sua casa. Disso, nada viram os carteiros atuais.

Como ficou monótona a vida dos carteiros. Não existe mais ninguém à esperá-los. Agora lidam com frias e impessoais caixas de correspondências. O destinatário é apenas um número de apartamento, de uma sala comercial ou uma anônima caixa postal. A atividade perdeu o encanto. Deve ser por este motivo, que eles não mais se aposentam no ofício. De certeza, anda fazendo muito mal para os carteiros, não mais entregarem cartas de amor.

Novos tempos. Hoje, outros meios servem para os amantes distantes se comunicarem. Os celulares, as redes sociais acabaram com a missão romântica dos carteiros: ninguém mais envia uma carta de amor. A ansiedade da espera da missiva tão desejada, sumiu. As cartas que eram lidas, relidas e guardadas como objetos de estimação por toda a vida, desapareceram.

Como ficou triste a vida dos carteiros e das pessoas apaixonadas, que nunca mais receberam, um bilhetinho que fosse, que falasse das coisas íntimas, ditadas em segredo pelo fogo da paixão.

Só eu, que sempre pergunto para o carteiro, já meu velho conhecido, na frente do meu prédio: - “ ela continua sem me escrever?”

Ele me olha compadecido, destruindo minha esperança, confirmando minha solidão. E cruel, acrescenta: “ - já faz tanto tempo. Nunca mais ela vai escrever!”

Só para ressecar o meu coração!

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