quinta-feira, 1 de agosto de 2013

LIVRAI-ME SENHOR

Oh Deus, não lhe peço que me livre da morte porque sobre esta, decidido já está. Mas se não for incômodo Lhe convocar para intervenções tão pessoais diante dos Seus urgentes e divinos compromissos com a humanidade, peço-Lhe que retire do meu caminho, os burros, os chatos, os idiotas, os simplórios, porque esses são piores do que doença ruim. Que livrai-me daqueles seres inferiores que possuem respostas para tudo, dos que são os donos da última palavra, e que iniciam as suas falas com esta maldita sentença: “ - A grande verdade é que...” Esses sábios de araque, em geral diplomados, são insuportáveis. 

Livrai-me Pai Eterno, dos charlatões, dos falsos, dos fingidos, dos medíocres, e daqueles que falam de mal pelas costas. Fazei Senhor, com que esses não mais apareçam na minha frente. Leve-os para bem longe. Fica a Sibéria como uma humilde sugestão. 

Por favor, Supremo Criador, dá um jeito nos ciumentos, nos invejosos, nos mentirosos, nos plagiadores, porque gente pior do que esta o Senhor não colocou sobre a terra. Manda-os para o seu arquirrival; que o demônio deles se encarregue com pontaços de tridente, enquanto derretem nas brasas incandescentes do inferno. 

Oh, Todo Poderoso, castiga com trabalhos forçados, obrigando-os a quebrar blocos de pedra com pesadas marretas, de dezoito à vinte horas por dia, os pobres de espírito, os cínicos, os covardes. 

Os bajuladores, Santíssimo, esses causam nojo e arrancos de vômito. Se o Senhor aceitar outra humilde sugestão, leva-os de mudança para qualquer um dos polos gelados do nosso planeta. Tanto faz que convivam com os ursos no polo norte ou com os pinguins nas profundezas da Antártida. 

Providencia meu bom Pai, um definitivo sumiço àqueles que judiam dos humildes; deles que não podem se defender. E também nos arrogantes que se julgam os donos do mundo. E ainda, e é importantíssimo, Mestre dos mestres, transforma em pó essa outra classe de gente mesquinha, que são os que mais existem: os ladrões dos pensamentos e ideias alheias, que gastam o seu tempo de vida, anotando, decorando e pronunciando como se suas fossem, frases feitas, retiradas dos livros, dos jornais, dos almanaques; das conversas que ouvem disfarçando que não estão ouvindo. Eles que se apropriam, esses reles, de um repertório de conhecimento que jamais lhes pertenceu. Que de primeira mão nunca sairia de suas bocas, por mais que espremessem seus cérebros franzinos. 

Em tempo, Senhor; exitem os rancorosos, povo de desgraçada espécie; que são os causadores das calúnias, das difamações, das injúrias e das intrigas. Encaminha-os também para o satanás, com a rigorosa observação, de que devem receber os mais longos e dolorosos suplícios, executados que são, tão bem pelo capeta. 

E não esqueça Senhor, de dar uma ajuda para os miseráveis, que comem no lixo, dormem nas calçadas e morrem como bicho, atirados nas ruas e nos corredores dos hospitais. Por que, tantos sem nada, Senhor? Tanta desigualdade, por quê? E para os doentes terminais dá-lhes logo o fim, e a redenção no outro mundo, tão prometida. 

E com relação aos políticos hipócritas, corruptos e ladrões, sejas com eles justo e perfeito, Grande Arquiteto do Universo: dedica-lhes a lepra como presente; que ainda será pouco. E diante deste castigo, por mais que implorem clemência, não acreditai neles. Sejas forte Senhor e não os perdoa jamais. Do contrário eles retornarão piores do que já foram. Que a lepra os consuma lenta e progressivamente até torná-los em deformados monstros nojentos, acompanhados apenas das moscas varejeiras. Porque, quem rouba verba da saúde, da educação e da merenda escolar merece a vingança como punição. 

E quanto a minha morte, se é que posso fazer mais um pedido, que seja rápida, porque sofrer, já sofri o suficiente, padecendo com o inevitável convívio com esses grupos de gente, que dos outros, além do sangue e inteligência, querem sugar a alma também. 

Mas, peço-lhe, Deus Onipotente, que os boêmios, os poetas, os loucos, as prostitutas, os agnósticos e os ateus, e os que sofrem por amor; que estes o Senhor os deixe em paz. E que, do mesmo modo, não toques nos assadores de churrasco, nos fabricantes de vinho, nos mestres cervejeiros e nos donos das boas destilarias de todas as bebidas fortes do mundo. 

E peço também para o Senhor deixar onde estão, as mulheres bonitas que sabem fazer ambrosia e pudim de leite condensado; mais aquelas que fazem promessas e orações; magias, mandingas e feitiços; que acendem velas nos altares profanos nas madrugadas frias; que andam pelos sonhos, bares e igrejas, pelas ruas e terreiros de religião, como loucas, à procura de uma paixão. Elas, são os anjos que nos trazem o mais doce licor da existência. São as flores dos nossos jardins. Cuidaremos delas, Senhor. 

Oh Deus, deveria eu ter começado assim: protege e livra de todos os males, as crianças, principalmente. Por elas viveremos todos nós; os poucos que restarem aqui por baixo. Só elas são o que de puro existe.

Nenhum comentário:

Postar um comentário