segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

O PESCADOR

O Mourão é viciado em pescaria. Parece doença. Toda sexta-feira, mal termina o expediente na repartição, embarca no carro com reboque e junto com três antigos parceiros se vai para os açudes, rios ou barragens atrás de jundiás, dourados e traíras. É religião. Não falta um fim de semana. E deixa sozinha em casa a Darlene, esposa bonita, na flor da idade, carregada de energia.

“ - Não vai amor. Fica comigo. Carne, a gente compra no mercado!”

“ - Trabalho a semana toda para sustentar a casa, para não te deixar faltar nada! E o meu prazer como é que fica? É um direito que eu tenho, e dele não abro mão! Entendeste?”

Nem é tanto pelos peixes que o Mourão é pescador. Claro que aprecia este tipo de proteína. Menos ela, que por esta iguaria não se apetece. Prefere, a Darlene, outras espécies de carnes. Da pescaria, o Mourão gosta mesmo é da função, do acampamento, dos churrascos na beira d'água, das bebedeiras, das anedotas, do divertimento, da farra com os camaradas, daquela prazerosa intimidade.

A Darlene cansou de tanta solidão. Meses, dois anos encerrada dentro de quatro paredes os sábados inteiros, as noites, mais os domingos. Cansou e tomou aquilo como rejeição. Precisava encontrar uma saída para acalmar os seus desassossegos. Mas quem iria apagar aquele fogo que queimava sua alma, que apertava seu coração, que incendiava suas partes, aquela força indomável que fervia nas suas entranhas, que secava sua língua que escapava sedenta para fora da boca, tal um beija-flor em busca de precioso néctar? Quem? Quem a salvaria?

Não sabia, por inexperiência, que para esses casos, quando menos se espera, assim do nada, saindo voando do invisível, como magia, sempre aparece a solução. E tudo que a Darlene necessitava, estava ali na sua rua, próximo da sua janela, no outro lado do muro.

Era um belo rapaz o Gustavo no auge dos 17 anos, ainda não bem inaugurado no ofício dos prazeres carnais, que atirava olhares pecadores para o corpo torneado e carente da Darlene. Examinava as pernas da mulher como quem aprecia vistosa e apetitosa refeição.

Tarde de sábado, sol quente. A Darlene colocou um biquini sem a parte de cima, estendeu a toalha no gramado nos fundos da casa e deitou toda aquela dádiva corporal que raras mulheres têm o privilégio de possuir. Pele macia, dourada, brilhosa, que devia ter o doce e suave perfume de jardim em manhã de primavera. Uma tentação.

O Gustavo só de bermuda espia por cima do muro, cria coragem e diz: “ - boa-tarde, dona Darlene!” Surpresa, ela olha, sorri e pergunta, se ele não quer dividir com ela um refrigerante, enquanto lhe vem no pensamento: “ - como são cegos os olhos que não buscam!” Ele fez que sim com a cabeça, impulsionou o corpo musculoso; com pose de atleta pulou o muro.

Foram até a cozinha. Nem sequer deu tempo de abrir a geladeira. A Darlene se agarrou desesperada nos ombros do garotão. Beijou, suspirou, abraçou, acariciou, gemeu. Ele tremeu, cresceu, vibrou e exerceu com vigor o dever de macho, impulsionado por violentas descargas de testosterona, no sublime esforço dos instintos aplicados em tão desejada travessia. Ambos empenhados em resgatar o tempo perdido; gastança desenfreada de tantos desejos acumulados. Ali mesmo, sobre as lajotas frias se esfolaram alucinados; pois que quase nada nos dias de semana o Mourão procurava a Darlene. E quando fazia, uma desconsideração, era coisa pouca, feita só para ele.

Passaram a noite juntos na cama do casal. Que felicidade! Jantinha e refrigerantes e prazer e namoro dos bons. Como é bonito, dois jovens apaixonados se gastando um no outro!

Nas quintas-feiras a Darlene já prepara apressada na mochila, as roupas de pescaria do Mourão. 

Ela e o Gustavo que detestam cheiro e gosto de carne de peixe.

E o Mourão que agora também trabalha, para não deixar faltar nada para mais um.

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