segunda-feira, 12 de novembro de 2012

A FESTA

Fui convidado para uma festa numa mansão toda iluminada e de muros altos na beira do mar. Só gente rica. E uns que queriam ser importantes. E também uma espécie de ratos de festa que andam atrás de visibilidade e de algumas sobras do grande queijo. Coisa de pobre querendo se dar bem na vida. Muita gente usando roupas de grife, relógios poderosos e sorrindo sem motivo. 

Os homens falavam de automóveis, barcos, jatinhos e negócios de todas as espécies: os lícitos e os nem tanto. E havia uma diferença que dividia as mulheres, acho que meio a meio: uma metade acompanhava os seus maridos e companheiros e a outra parte trabalhava, distribuindo simpatia forçada, sorriso falso e o corpo pra quem chegasse. E uma equipe com mais de quinze garçons servia espumante qualificado, uísque de renome e um pó branco que brilhava sobre as bandejas de prata bem polida. 

Na medida que a noite avançava, mais a vontade todos ficavam; mais bêbados, mais loucos e mais irreconhecíveis. Todo mundo pegava todo mundo e se atiravam a fazer sexo onde desse: nos quartos, na piscina, nos sofás, nos tapetes, nos gramados, nas cadeiras, nas mesas da cozinha e das salas. 

Ninguém mais pertencia a ninguém. Os maridos deixaram as suas esposas para os outros e buscaram as moças remuneradas. Tinha até marido de bom nome sendo mulher de outro renomado, e mulher de nome falso beijando mulher com sobrenome. Muito marido trocou a esposa por um rato jovem da festa, coisa que algumas senhoras também acompanharam. E também algumas esposas com esposos que não eram seus. O que mais sobrava era esposa mais antiga, mais isso elas davam um jeito entre elas mesmo. 

Foi quando olhei em direção ao bar e vi duas mulheres, uma novinha e outra quarentona me olhando, sorrindo um sorriso caçador que dizia: vem cá meu bem! Fui. Cheguei. E quando fui dizer o meu nome, uma abraçou a outra e se beijaram com fúria, com as mãos apertando, alisando as pernas uma da outra por baixo das saias sem calcinha. Uma delas, pela aliança que usava era esposa de alguém. A outra, não sei. 

Fiquei excitado com aquelas duas mulheres se agarrando na minha frente e entrei no jogo. Beijava uma e a outra. Enquanto beijava a boca da loira, a loira mais antiga beijava o meu pescoço. Ali mesmo tiramos a roupa e transamos os três. Eu com elas e elas entre elas. 

Depois não vestimos as nossas roupas. Estavam os outros todos em pelo, fazendo sexo, se amassando, bebendo, agarrados nas bandejas de prata, e a boca era pra todos os usos. 

Olhei pra um enorme tapete no chão e ali por cima tinha umas doze ou mais pessoas: homens e mulheres fazendo o que precisavam nos corpos alheios. Entramos, eu e as duas naquela confusão, e ali me liquidei, naquela perdição. 

Cansado, levantei, tomei mais uns copos de uísque e na penumbra vi que as flores brancas: os cravos, as rosas, os lírios dos vasos de cristal estavam todas mortas. Nem quis saber o motivo. Fui então procurar minha roupa. Não encontrei. Por todos os lados só havia roupas dos outros, aos montes. Me agachei e peguei um terno preto de um tecido caro e macio. Vesti a calça, um paletó e uma camisa. Serviram. E fui embora de pés descalços, levando uma garrafa de champanhe que falava francês. Abandonei aquela usina de sexo com o corpo perfumado, impregnado com os cheiros destilados e recebidos por conta daquela desenfreada luxúria. 

Já estava quase amanhecendo. Entrei assoviando em casa, e o terno que eu usava era de uma grife famosa, e a camisa também. 

Pensei: alguém vestiu a minha roupa que não valia muita coisa. Apalpei, e achei no bolso interno do casaco um cubano de raça pura, abri aquela champanhe e fui pra sacada. Fiz um brinde para o sol que atirava os seus primeiros raios nascentes que iluminaram o meu rosto e me deram força na alma, como se dissesse: aproveitaste bem, não é Joca? 

Sorrindo, em pensamento respondi: nem tanto meu rei. Hoje em dia, pra mim, qualquer bocado já é um grande banquete.

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